World Trade Center: O complexo de sete torres ocupava 64.750 metros quadrados. Os dois prédios principais tinham 110 andares cada um. A altura do WTC-1 era de 417 metros e a do WTC-2, dois metros menos. As outras torres variavam entre 8 e 47 andares. O conjunto abrigava escritórios de 400 empresas de 25 países e 50.000 pessoas trabalhavam nas torres norte e sul. Havia seis subsolos, com um centro comercial, estacionamento para 2.000 carros, acesso para duas estações de metrô e uma de trens. O conjunto gerava 50 toneladas de lixo por dia e consumia 8,5 milhões de litros de água potável. As máquinas de ar condicionado sugavam 363 000 litros de água por minuto do Rio Hudson e a antena de 110 metros do prédio WTC-1 era usada por dez emissoras de TV de Nova Iorque.
O ataque ao WTC: As torres gêmeas do World Trade Center foram construídas para resistir ao impacto de um Boeing 727. Não caíram quando os aviões entraram pelas janelas, numa manobra que revelou a enorme perícia de quem os pilotava. O modo como os terroristas acertaram os prédios dá indícios de um planejamento milimétrico. Na velocidade máxima, acima dos 800 quilômetros por hora, um grande avião empurra tamanha quantidade de ar a sua frente que é virtualmente impossível que acerte um paredão numa colisão frontal. “A turbulência seria tão forte diante da parede que tiraria o Boeing da trajetória”, explica David Barioni Neto, vice-presidente técnico da companhia aérea Gol. Por isso eles voaram mais lentamente — calcula-se que a 450 quilômetros por hora — e optaram pela trajetória curva para chegar ao objetivo. No caso do Pentágono, em que não há imagens do momento do impacto, o problema é parecido. Descer uma aeronave de 115 toneladas numa pista de aeroporto exige combinar velocidade e aerodinâmica com equipamentos de precisão. Pousar sobre um alvo específico é quase uma loteria. Em todos os momentos, os extremistas mostraram o conhecimento de quem passou muito tempo num simulador de vôo, além de prática efetiva. Desligaram, por exemplo, os transponders que emitem sinais eletrônicos sobre a localização das aeronaves. Passaram também a voar em baixa altitude, fora do alcance dos radares. E, pelo menos num caso, foram eles que mandaram os passageiros ligar por celular para avisar do seqüestro. Queriam publicidade máxima de seus atos e agiram como se tivessem antecipado o cenário que construiriam.
Mesmo bastante avariadas, as torres não teriam caído só com os choques dos 767 contra suas estruturas. Cada aeronave colidiu contra as armações de aço e vidro com uma força de impacto equivalente a mais de 1.000 vezes o próprio peso. A maior parte da estrutura dos aviões é de alumínio. Numa batida dessas, seu corpo vai se deformando, franzindo, até transferir sobre a superfície atingida uma força capaz de rasgá-la. Nesse ponto, tudo o que está em seu interior já foi arremessado para a frente como se houvesse uma freada instantânea. Só então o resto da fuselagem penetra na estrutura. Quando isso aconteceu, os prédios tremeram, oscilaram e rangeram, como contam os sobreviventes do atentado terrorista em Nova York, mas se mantiveram de pé. Muita gente que estava nos andares inferiores escapou da morte na hora seguinte. Pessoas que estavam acima do 103º andar no edifício norte, o primeiro a ser acertado, ou do 93º da torre sul não tiveram a mesma chance. Os aviões em chamas praticamente dividiram seus alvos em dois blocos. Tudo o que havia nos pavimentos diretamente atingidos, móveis e pessoas, foi pulverizado pela explosão ou arremessado para fora pelo deslocamento de ar.
Quem estava acima do ponto de colisão não tinha chance de passar pela parede de chamas que tomou quase dez andares de cada construção. Todas essas pessoas acabariam morrendo — no fogo, num salto de mais de 300 metros ou no desabamento.
Foram os incêndios, combinados com uma característica tecnológica dos arranha-céus, que os puseram abaixo. No impacto, cada área atingida alcançou imediatamente a temperatura de 450 graus Celsius, o ponto de combustão do querosene de aviação. Cada Boeing levava combustível suficiente para voar por mais 4.000 quilômetros — ou para queimar por algumas horas. Divisórias e móveis de madeira e plástico incendiaram-se também. A temperatura chegou aos 1.000 graus. O aço não se funde nesse ponto, mas perde dureza. Sustentados pelas colunas de aço de sua armação exterior, como gaiolas, os edifícios tiveram várias delas cortadas pelo efeito faca da penetração dos aviões. Depois, chegaram depressa ao ponto de colapso estrutural por causa do peso nas partes superiores aos pontos em que aconteceram os choques. O topo de cada torre sustentava um engenho cuja função era contrabalançar os efeitos do vento. Para garantir a resistência da estrutura a ventanias de até 320 quilômetros por hora, que deslocavam lateralmente a parte mais alta dos edifícios mais de 1 metro, essa placa de aço e concreto, montada sobre roletes, movia-se sempre na direção oposta à inclinação, impedindo que se alterasse o centro de gravidade do conjunto.
Essa plataforma pesava 600 toneladas. Cada laje dos blocos tinha mais 40 toneladas. Havia dezoito lajes acima dos andares avariados na torre sul e oito sobre os que ardiam no outro prédio. Quando o aço começou a se deformar, pelo calor, todo esse volume veio abaixo e funcionou como um martelo — um martelo que ganhava mais peso a cada andar que ia sendo esmagado. Técnicos em edificações supõem que os terroristas imaginaram esse efeito cascata de destruição ao planejar os atentados. “Se tivessem atingido o primeiro terço inferior dos prédios provavelmente eles ainda estariam de pé”, diz o arquiteto paulista Rubens Ascoli Brandão, que defendeu há quatro anos uma tese sobre o World Trade Center. “As colunas externas, que seguram tudo, começam muito grossas embaixo e vão afinando à medida que têm de suportar menos peso.” No ponto em que acertaram, os pilotos conseguiram produzir os piores efeitos. O World Trade Center agüentou os aviões, agüentaria focos de incêndio e até bombas. Mas impacto, chamas e explosões foram agressões demais.
No final, pessoas de 60 nacionalidades diferentes faleceram no acidente que destruiu o World Trade Center, um complexo de escritórios e empresas multinacionais que abrigava mais de 20.000 pessoas trabalhando no dia a dia. Outras milhares de pessoas visitavam os edifícios, que ainda estavam relativamente vazios, em razão do horário. As nacionalidades das pessoas desaparecidas segundo fontes do Departamento de Estado do governo americano e do Consulado-Geral do Brasil em Nova York são: 3 613 Estados Unidos, 403 Holanda, 250 Índia, 208 Colômbia, 206 Alemanha, 200 Grã-Bretanha, 200 Paquistão, 150 Canadá, 133 Israel, 96 Rússia, 86 Itália, 71 El Salvador, 68 Portugal, 55 Austrália, 55 Bangladesh, 40 Áustria, 34 Irlanda, 34 Equador, 30 Polônia, 30 Coréia do Sul, 25 República Dominicana, 23 Japão, 20 Grécia, 17 México, 10 República Tcheca, 10 Eslováquia, 10 França, 8 Marrocos, 8 Iêmen, 7 Honduras, 7 Jamaica, 7 Taiwan, 6 Argentina, 6 Guatemala, 5 BRASIL, 5 Irã, 4 Bélgica, 4 Belize, 4 China, 4 Trinidad e Tobago, 3 Barbados, 3 Líbano, 3 Panamá, 3 Peru, 3 Venezuela, 2 Jordânia, 1 Bahamas, 1 Chile, 1 Costa Rica, 1 Dinamarca, 1 Egito, 1 Gana, 1 Indonésia, 1 Nova Zelândia, 1 Paraguai, 1 Sri Lanka, 1 Santa Lúcia, 1 Turquia, 1 Ucrânia e 1 Bielo-Rússia.
As autoridades registraram 6 300 pessoas desaparecidas. De mais de metade delas já havia amostras de DNA enviadas pelos familiares — fios de cabelo, roupas, escova de dentes. Noutros casos, pais e descendentes doaram amostras de material genético para comparação com o de vítimas desfiguradas. Mas só 400 partes de corpos foram encontradas. “São mínimas as possibilidades de ainda haver sobreviventes”, resignou-se na terça-feira o prefeito Rudolph Giuliani. Dos escombros dos prédios, apenas sete vítimas saíram com vida. Dessas, quatro eram bombeiros aprisionados pelo desabamento do primeiro edifício.
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