sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Aprofunda-se a crise no governo Dilma

Ministério da Agricultura: caiu Wagner Rossi

Este é o quarto ministro substituído em menos de três meses. Depois de inúmeras denúncias, a situação ficou insustentável e a demissão ocorreu para preservar a aliança entre PT-PMDB, estremecida pela luta política entre os dois partidos pelo controle do aparelho do Estado


Depois de uma série de denúncias de corrupção contra membros do ministério da Agricultura, caiu o chefe da pasta, Wagner Rossi. Um dos principais capítulos da crise se deu na semana passada em uma operação da Polícia Federal (PF) que prendeu 38 pessoas do alto escalão do ministério, incluindo o número dois da instituição, o secretário executivo, Frederico Silva da Costa. 


19 de agosto de 2011
 
 A crise culminou com o pedido de demissão de Wagner Rossi no fim da tarde do dia 17, quarta-feira. A substituição de Rossi foi feita porque a situação estava ameaçando a aliança PT-PMDB. A situação ficou insustentável e a troca dos ministros foi um meio para preservar esta aliança.   

A crise atual contrasta com a situação do governo no início do ano. Contando com um apoio no Congresso Nacional superior ao obtido por Lula em seus dois mandatos, Dilma não teve dificuldade em aprovar seus projetos durante os primeiros meses de 2010. Um exemplo disto foi a votação do salário mínimo. A base de apoio do governo, composta principalmente por PT-PMDB, não teve dificuldade em aprovar a proposta de R$ 545,00. Na ocasião, todos os parlamentares dos dois partidos votaram juntos na proposta do poder Executivo.   

Agora, a situação é diferente.

Este é o quarto ministro que cai em menos de três meses. O primeiro foi Antônio Palocci, na Casa Civil; o segundo foi Alfredo Nascimento, nos Transportes; em seguida foi Nelson Jobim, na Defesa; e por último, Wagner Rossi, na Agricultura. 

Uma análise sobre a crise no ministério da Agricultura, controlado pelo PMDB e sob a forte influência de Michel Temer, vice-presidente da República, serve para esclarecer os motivos que vem enfraquecendo o governo federal. Vale lembrar que um dia antes da queda de Wagner Rossi, o PR (Partido da República) anunciou que deixaria a base de apoio de Dilma no Congresso. O PR apoiou os dois governos de Lula e ocupou a vice-presidência entre 2003 e 2010 com José Alencar.

As principais denúncias contra o ministério do PMDB

As primeiras denúncias foram feitas por Oscar Jucá Neto, irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá. Ele denunciou irregularidades na Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e afirmou que este esquema contava com a participação do ministro Wagner Rossi. 

Após esta denúncia surgiram outras. A denúncia posterior foi feita por meio de uma reportagem da revista Veja, onde lobistas eram acusados de terem um escritório clandestino dentro do ministério e intermediar negócios com empresários. Tudo isto era feito sob a coordenação do ex-ministro. Segundo a reportagem, o lobista Júlio Fróes estava envolvido em um desvio de mais de R$ 9 milhões em um contrato entre o ministério e a Fundação São Paulo, mantenedora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Ainda foram feitas mais duas denúncias contra o ministro da Agricultura. Uma pela Folha de S. Paulo através de uma entrevista de Israel Leonardo Batista, ex-chefe da Comissão de Licitação da Agricultura. Ele denunciou que licitações irregulares eram comandadas por Wagner Rossi. A outra denúncia, do jornal Correio Braziliense, mostrava que Rossi e um de seus filhos, o deputado estadual Baleia Rossi (PMDB-SP), viajaram várias vezes em um jatinho de empresas de agronegócios. 

PT-PMDB vs PMDB-PSDB-DEM

Em sua carta de renúncia, Wagner Rossi expos alguns fatos que estariam por trás das seguidas denúncias de corrupção. Em um trecho do texto Rossi afirma o seguinte: “Todos me estimularam a continuar sendo o primeiro ministro a, com destemor e armado apenas da verdade, enfrentar essa campanha indecente voltada apenas para objetivos políticos, em especial a destituição da aliança de apoio à presidenta Dilma e ao vice-presidente Michel Temer, passando pelas eleições de São Paulo onde, já perceberam, não mais poderão colocar o PMDB a reboque de seus desígnios".

Este trecho dá a indicação, principalmente quando faz referencia à eleição de São Paulo, do que realmente está detrás da crise. A movimentação política para a eleição municipal da capital paulista já começou. E pela sua importância, esta disputa sempre reflete as lutas políticas que se desenvolvem em nível nacional e acabam sendo um “primeiro turno” para a eleição presidencial que ocorrerá depois de dois anos.

Nesta disputa tem ficado clara a divisão dos dois principais partidos do governo. O PMDB está dividido fundamentalmente em duas alas. Uma delas favorável a uma aliança entre PMDB e PT que busca lançar como candidato o ministro da educação, Fernando Haddad. Dentro do PT este setor conta com o apoio de Lula. No entanto, a aliança não é unanime dento do Partido dos Trabalhadores. Outra ala, liderada por José Dirceu, é favorável a que o partido tenha candidato próprio na disputa.

A outra ala do PMDB busca uma aliança com o PSDB e DEM.

Tudo isto indica que quem pode estar por trás desta operação para derrubar o ministro da Agricultura seja o PSDB. Depois da queda de Wagner Rossi alguns setores da imprensa capitalista apontaram que o ex-ministro teria revelado que esta operação política foi dirigida por José Serra, um dos líderes da oposição burguesa e possível candidato tucanos à prefeitura de São Paulo.

Outro fato que corrobora esta hipótese é que no meio da crise abriu-se outra, entre a Polícia Federal (PF) e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso. A operação da PF contra a alta cúpula do ministério da Agricultura teria sido feita sem o conhecimento do ministro que é o responsável pelo órgão de repressão.

A Polícia Federal, historicamente controlada pela ala direita da burguesia, estaria sendo usada pela oposição burguesa para desmantelar a aliança PT-PMDB e, conseqüentemente, desestabilizar o governo Dilma.

A “crise por cima” desestabiliza o regime burguês

No meio de toda esta crise começaram a surgir os primeiros questionamentos sobre a possibilidade de Dilma não conseguir concluir seu mandato.

Como é tradicional na luta entre diferentes alas do regime burguês, as denúncias de corrupção são usadas como instrumento para atingir o adversário. Diferentemente do que acreditam os pequenos burgueses do Psol, PSTU e outros grupos menores, as denúncias da imprensa capitalista nada têm a ver com uma luta “ética” contra a corrupção.

Não é coincidência que as denúncias contra o Ministério da Agricultura, feitas sobre a coordenação de José Serra, tenham como veículo a revista Veja, tradicional órgão de imprensa da direita.

Por trás das denúncias está a crise do regime político. Este é o significado desta luta que se desenvolve tanto entre o PT e PMDB por um maior controle do aparelho do Estado (ministérios, estatais, cargos do terceiro escalão etc.), como na ação da oposição de direita para desestabilizar o governo Dilma.

Nesta luta de quadrilhas, o interesse da classe operária está na desestabilização do regime político. A divisão da burguesia é resultado de uma crise que se desenvolve “por cima” e que desestabiliza o regime político, ou seja, diminui a capacidade da burguesia de disciplinar a classe operária.

A crise é um reflexo da desagregação da economia capitalista e que já deu demonstrações que o Brasil está às vésperas de um “crash” financeiro, como mostrou a queda de mais de 9% na Bovespa no dia 8 de agosto.

Todas as mobilizações revolucionárias nos países árabes e na Europa são resultado da crise capitalista. No Brasil não será diferente. O agravamento da situação econômica e política são fatores que levarão a classe operária brasileira a uma mobilização revolucionária por suas reivindicações imediatas e históricas.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário